Hoje venho mais uma vez escrever a vocês, mas dessa vez será sobre o ProFRANCA — o lugar mágico onde passei seis meses da minha vida monitorando as incríveis baleias-francas. Para uma estudante de Rio Verde, Goiás, o mar sempre foi um sonho distante, quase impossível. Quando cheguei ao litoral catarinense e mergulhei de cabeça no trabalho do Instituto Australis, senti que, finalmente, a vida real superava qualquer fantasia. Embarcar naquele avião, depois de toda a correria da mudança, era levar um coração pulsando expectativa para uma casa em Itapirubá, onde 18 pessoas apaixonadas, vindas de todo o país, se tornaram minha nova família.
Os primeiros dias foram um turbilhão de emoções. Começamos com o treinamento, e no primeiro dia enquanto aprendíamos vimos pela janela, de longe um borrifo e… buuum! Como muitos ali, eu estava vendo a minha primeira baleia, e foi ai que eu percebi que estava realizando o meu sonho. Depois de uma semana, fomos escalados para trabalhar: 7 pessoas na sede e 11 nas praias, monitorando as baleias e seus comportamentos. Eu fui escalada para o monitoramento terrestre e minha primeira praia era a da Guarda do Embaú. Fiquei lá por 30 dias, hospedada em um hostel que é parceiro do Instituto, lá muito era muito aconchegante, mas aí meu primeiro desafio chegou: o hostel era vegano! Essa não era minha dieta, e foi difícil me adaptar a esse estilo no começo, mas eu gostei. Lá, conheci duas mulheres que vinham de fora do país fazendo um documentário sobre as mulheres na ciência e me pediram para dar uma entrevista, aquilo foi incrível! Os donos do hostel também eram legais, muito receptivos, e antes de partirmos para a próxima praia, fizemos um churrasco vegano — foi a primeira vez na vida que comi uma batata-doce assada.
A minha rotina era intensa. Acordava todas as manhãs, fazia uma trilha até o alto do morro e sentava ali. Saía para almoçar e voltava logo após o almoço para fazer o monitoramento até mais tarde. Na praia tem um rio, o Rio da Madre, que desaguava no mar e mostrava uma paisagem incrível. Nessa praia, não havia muitas baleias se comparado com as outras, mas pelo mês que estávamos, não era para ter mesmo. Vi algumas mães com filhotes, e lembro que a primeira que vi foi muito emocionante. Por um segundo, até esqueci por que estava ali! Mas logo depois, já peguei meu binóculo, a prancheta e comecei a anotar tudo o que ela fazia: cada borrifo, salto, batida de cauda e quando mostrava a nadadeira peitoral. Tudo incrível! Escrevendo isso agora, consigo lembrar de cada pequeno momento lá: do vento frio batendo no meu rosto logo de manhã cedinho, do sol nascendo nas colinas e dos meus dedos congelando com tanto frio, dos golfinhos que estavam ali todas as manhãs e, é claro, cada baleia que avistei.
Depois dela, fui para outras praias e também fiquei na sede, mas essa é uma história para outra hora, vou parar por aqui se não o texto vai ficar longo! Essa jornada me confirmou que a luta pela conservação da vida marinha faz parte, intrinsecamente, de quem eu sou. Espero que goste, e até o próximo! Deixo abaixo o link da edição especial do Desbaratando a Biologia, que outros dois estagiários e eu escrevemos, contando nossa experiência.